domingo, 25 de outubro de 2009

Metamorfose...


Abro os olhos e deparo-me com as diferenças...
As que marcam as minhas presenças...
Traços que outrora escondera, abafara
por medo da esfera não assentada...

Impulsividade, talvez a palavra que melhor me defina...
Volatilidade, algo com que se escreve a minha sina...
Sensibilidade, a que crava a minha cruz...
Inconstância, o terrivel guia que me produz...

De larva a borboleta? Ou de borboleta a larva?
Um acordar que negava ao fio da navalha...
Para mim um libertar... Aos outros um estranhar...
Um casulo que se abre... Uma nova pessoa que nasce...

Alma cravada e gravada em espinhos afiados,
Os que nunca dei a picar mas com os quais me feri,
Rosas que revelei em dias de calor, os que criei por amor,
Hoje esmagam-se em pegadas minhas... as que não pedi...

Mudança... A que se adivinha... Sinto-a aproximar...
Desejo-a, no meu ser se instala... Deixo-a se entranhar...
Como duna que se forma ao sabor do vento...
Como chuva que cai na bruma feita a meu tempo...

Metamorfose... A minha...
Quem serei eu um dia?
Não sei, mas apenas de uma coisa eu saberei...
Serei eu e mais ninguém...




quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Farta...
De falinhas mansas, plumas brancas,
De ver bolinhas de sabão coloridas,
Onde as cores garridas
Escondem as cóleras sentidas!

Farta...
Do lado bonzinho, apelativo....
O que o altruismo traz como boa fortuna...
Sede.... de o que o sangue pede,
A misericórdia que a vida não me cede,
A de cair na pura loucura!

Farta...
De complacências, de ternas existências....
De nada me tem servido!
Os valores que guardo, ultrapassados,
Na pele a ferro e fogo marcados,
Darão-me quando morrer o além prometido?

Farta....
De ser o ombro amigo, o olhar escondido,
Que se tira do armário quando é preciso!
Vontade... de ser o que devia!!!!
A raiva contida, a acidez merecida,
O que a natureza me fermenta a gosto e devia!!!!

Farta... do estado sóbrio da vida..
O que aos outros serve como conforto,
Mas que a mim não serve agora de consolo...
Farta... do meu lado calmo, complacente,
O que me adormece e torna dormente...

Farta... de sonhos!
Sôfrega.... de pesadelos!
Os por mim causados, em noites de flagelos...
Os por mim provocados, em teias de novelos...
O que vale é que as minhas palavras de nadam valem...
E que para sempre elas se calem...

sábado, 3 de outubro de 2009

Queda


Folha de Outono que cai...
Brisa que a pele alisa em jeito brando...
Como se entoasse um doce e venenoso canto...
O que na Natureza se produz, não retrai...


Ténue, frágil, quase sem se dar por isso
assim ela cai e se quebra o seu feitiço...
Sózinha, desprovida de espólios ou bagagens,
Assim vai observando as suas margens...


Olhos cerrados na sua viagem, vidrados
e cansados, parcos na sua coragem...
Vão soltando como que gotas de orvalho,
Fruto da sua luta, cansaço, infrutifero trabalho...


Uma entre tantas folhas de Outono, apenas vai caindo,
Abraçou o sol, sorriu perante um beijo dado por baixo de si,
Vibrou com veemência na luz que incidiu sobre si,
As cores foi perdendo e do seu útero foi saindo...


Queda vertiginosa, de todo saborosa,
mas necessária ao equilibrio...O que lhe é exigido...
Jaz no chão,pintada em tons de solidão...
Prostada num canto qualquer, o que ninguém quer...


Agradeçeu a dádiva, foi importante...
Mesmo que não se tenha dado como notada...
Fez parte do circulo, teve o seu tempo, viveu...
Folha de Outono que nasceu vibrante...
Pela vida cuidada, abraçada e assim permaneceu encantada...
Mas o seu tempo chegou, e como uma pluma desfaleceu...